Vik Muniz é um artista plástico brasileiro que recebeu notoriedade mundial por suas fotografias que incorporam materiais recicláveis a arte. Ele subverte o tamanho das obras, aumentando ou reduzindo, tornando impossível saber quais são as dimensões originais.
A tinta a óleo e outros pigmentos mais sofisticados dão lugar a misturas inusitadas feitas com ingredientes simples como açúcar, massa de tomate, calda de chocolate, grãos de café, macarrão, manteiga de amendoim e areia.
Ele ressignifica os objetos, transformando-os de algo considerado como lixo em matéria prima para obras plásticas luxuosas, avaliadas em centenas de dólares.
Trajetória
Nascido em 20 de dezembro de 1961, na cidade de São Paulo Vicente José de Oliveira Muniz cresceu em uma família de classe média baixa, não se tem muitos dados sobre a sua infância, mas sabe-se que ao concluir o ensino médio ele decidiu cursar Publicidade e Propaganda na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
Após concluir a graduação, assim como Warhol, o publicitário decide dedicar-se à arte. Pouco tempo depois Vicente se envolve em uma briga, e ao tentar separar dois homens que discutiam ele acaba sendo baleado na perna, por sorte aquele que atirou nele possuía riquezas e pagou uma indenização generosa ao artista pelo ocorrido.
Com o dinheiro recebido Vicente comprou uma passagem e mudou-se para os EUA, mas ele precisava se sustentar na cidade. Seu primeiro emprego envolvia retornar os carrinhos de compras do estacionamento para o supermercado, além de esvaziar lixeiras. Na convivência compulsória com o lixo o artista encontrou uma fonte de inspiração: os rastros de chorume deixados no chão.
O que deu origem aos seus primeiros trabalhos utilizando ingredientes alimentícios como elementos para tela. Dada a ousadia e criatividade das obras seu trabalho, recebeu notoriedade no New York Times. O artista ganhou visibilidade, começou a ser convidado para realizar exibições em museus locais, abriu seu primeiro ateliê em New York e adotou o pseudônimo Vik Muniz.
A importância dos artista de vanguarda, os verdadeiros ruptores da arte
O trabalho de artistas como Warhol, Van Gogh, que curiosamente tem o mesmo nome de batismo de Vik, são de extrema importância para a história da arte. Classificados como artistas de vanguarda, esses homens atuaram quebrando o status quo da arte, transpondo padrões estéticos convencionais para criar obras inovadoras, que ressignificam o que é arte.
Lixo para quem?
O material utilizado como obra prima para o trabalho “Lixo extraordinário” foram itens normalmente descartados no cotidiano, como tampas de garrafa PET, pneus, cordões que quando posicionados de forma harmônica podem formar desenhos extraordinários.
Depois de anos de sucesso, um lixão foi usado como palco para o seu novo trabalho, o artista decide voltar para o Brasil, mais especificamente no Jardim Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, localizado na periferia de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Vik Muniz problematiza a associação das pessoas que trabalham no lixo com o próprio lixo, esquecidos, esses seres humanos convivem com situações degradantes de doenças, morte, preconceito e tristeza. O processo criativo foi feito a partir de fotografias artísticas que usam as catadoras de materiais recicláveis como musas, dissociando essas mulheres do lixo.
As fotos foram impressas com traços de desenho, dando destaque aos contornos. Montadas em uma plataforma de 15 metros e as linhas formadas preenchidas com material reciclável. Veja como isso é feito aqui.
Posteriormente, a imagem formada pelos desenhos preenchidos com lixo foram novamente fotografadas de um ponto mais alto do ateliê criando os quadros finais tamanho menores. O trabalho foi registrado e pode ser acompanhado no documentário Lixo extraordinário (2009), que ficou entre os finalistas do prêmio Oscar de 2011.
Por se tratar da mesma temática, é inevitável a comparação com Ilha das Flores (1989), ou do trabalho de Sebastião Salgado mostrando crianças negras passando fome no sertão brasileiro, mas Vik Muniz não saiu pelo mundo lucrando com a pobreza alheia sem se importar com as consequências posteriores do seu trabalho, pelo contrário.
Diferentemente de seus colegas, ele escolheu um dos quadros que mostra Tião Santos deitado em uma banheira em meio ao lixo para levar a leilão. A obra foi arrematada por 28 mil libras, o equivalente a 100 reais na época, e todo dinheiro recebido foi doado para os catadores de “lixo”.
Em entrevista ao programa do Jô Soares, Tião Santos, líder da Organização dos Catadores do Lixão de eJd. Gramacho nos dá uma lição valiosa de vida, e esclarece que “não é um catador de lixo, mas sim um catador de materiais recicláveis, pois lixo é aquilo que não tem reaproveitamento, material reciclável tem”.
Ao final do documentário é possível ver o que aconteceu com cada um dos participantes depois da exposição. Por mais simples que esse detalhe pareça, é um ponto pouco abordado em trabalhos que exploram a estética da miséria “em nome da arte”. Para saber o impacto posterior de intervenções artísticas, é preciso consultar documentários como: Ilha das Flores: depois que a sessão acabou (2011).
As obras mais notórias de Vik Muniz
Outra obra emblemática do artista que merece destaque é “Sugar Children” (1996), na qual ele primeiramente fotografa crianças caribenhas negras que trabalham na colheita de cana de açúcar, para posteriormente imprimir fotos em uma tela com o fundo preto e preencher com açúcar.
Em outra obra, “Rio de Janeiro, Postcard” (2013) Vik Muniz reúne centenas de cartões postais para criar uma imagem única. Além da criatividade na abordagem plástica, o próprio nome é um trocadilho que brinca com poster, e impostor criando um cartão postal que, embora feito de cartões não é necessariamente um cartão comum, lembrando um pouco a obra ‘Ceci n’est pas une pipe” (1929) de Magritte.
Em 2015 as críticas sociais sempre pontuais de Vik Muniz, extrapolam a perversidade sofrida pelos jovens negros periféricos, por meio de uma instalação criada para Bienal de Veneza ele simula um despretensioso barquinho de papel gigante, com uma crítica genial embutida na própria arte, a dobradura do barco deixa exposta uma notícia sobre os refugiados mortos ao tentar chegar à costa da Itália.
Em entrevista à Rede Globo Vik Muniz fala sobre a sua exposição e explica que busca criar “um trabalho que possa dizer alguma coisa para qualquer pessoa”. O que o trabalho desse artista diz para você?