Lúdico, colorido e vívido veja a história de Vincent van Gogh

Vincent Willem van Gogh é sem dúvida um dos mais celebrados artista da história da arte. Atualmente, suas telas atingem preços recordes em leilões, chegando a casa dos milhões. Infelizmente o pintor holandês teve a sua história sobrepujada pelo ato macabro de cortar a sua própria orelha. Mas a sua vida curta, intensa e tragicamente perturbada não se limita a esse ato.

Vincent Willem à sombra homônima

Um bebê natimorto foi enterrado em 30 de março de 1852 na pequena cidade holandesa de Zundert. Filho do ministro da Igreja Neerlandesa Theodorus van Gogh e sua esposa, a sra. Anna Cornelia Carbentus, a criança recebeu o nome de “Vincent Willem”.

Exatamente um ano depois da morte do primogênito, quando seus pais ainda estavam em luto nasceu outro menino. Ao contrário do primeiro, este sobreviveu e recebeu o mesmo nome do irmão falecido.

Vincent carregou a dor da rejeição de sua mãe durante toda a vida. E foi somente com o seu irmão Theo, cinco anos mais novo, que ele conseguiu desenvolver um laço profundo..

O pequeno artista sempre trazia para casa ninhos de pássaros, insetos e plantas para estudar depois de seus passeios ao longo do rio Danúbio. Sua mãe ensinou aos filhos a desenhar e fazer aquarelas. Os desenhos de Vincent feitos dos 9 aos 11 anos eram considerados bons, mas não prenunciava a arte que surgiria.

O primeiro contato com a arte

Aos 15 anos a vida de Vincent tomou um rumo crucial para o seu futuro como pintor. Devido às dificuldades financeiras de sua família ele foi forçado a sair da escola para trabalhar com seu tio Cent na galeria de arte Goupil & Cia. em Haia.

Longe de casa pela primeira vez, o jovem florescia. Sempre fora um leitor voraz e aprendeu a falar francês, alemão e inglês. Em junho de 1873 Vincent foi transferido para galeria Goupil de Londres.

Após sete anos de trabalho na galeria Vincent brigava com seus patrões e dizia aos fregueses para não comprarem as artes que vendia pois eram vagabundas. Essas atitudes resultaram na sua demissão dois dias após o seu aniversário de 23 anos.

Ele acabou abandonando a arte e decidiu pregar nas paróquias, se tornando um peregrino. Buscou a Deus para tentar vencer os obstáculos do caminho e graças ao legado religioso de sua família poderia se tornar ministro como o seu pai.

Com as bênçãos de seus pais se preparou para o exame de admissão para a faculdade de teologia de Amsterdã. Sua dificuldade em aceitar regras acabou resultando no veto de sua entrada para a escola de teologia. Ele tentou entrar em outra escola na Bélgica, mas a sua ordenação foi negada graças ao seu comportamento.

O Cristo das minas de carvão

Determinado a pregar ele pediu para ser mandado para uma mina de carvão ao sul da Bélgica, um local onde os ministros eram enviados como castigo. Lá ele pregava o evangelho e cuidava dos doentes.

Desde que sua mãe o ensinou a desenhar Vincent esboçava quadros de interesse simples, mas a sua deslocação para a região mineira de Borinage mudou o rumo dos seus quadros. Após o trabalho ele enchia seu quarto com pintura de mineiros e suas famílias, enfatizando sua pobreza e o tormento de suas vidas.

Vincent van Gogh era considerado um fracassado, não tinha dinheiro e nenhuma previsão de ganhar algo, mas mesmo assim continuava possuído pela idéia de que deveria se tornar um artista. Escreveu para seu irmão Theo para contar a sua decisão que parecia uma tarefa impossível. Pois ele não possuía um conhecimento formal da arte, e com a sua idade as possibilidades iam contra qualquer tipo de sucesso.

Mas Theo se ofereceu para sustentar Vincent financeiramente, na época ele era um vendedor de arte respeitado da Goupil & Cia, e encorajou seu irmão a seguir com a sua arte.

A primeira companheira

Ao invés de voltar para casa Vincent decidiu se mudar para Haia, o centro artístico holandês. E aos 28 ele completou a sua primeira pintura, que mostrava vasos bem realistas em uma mesa, mas que ainda não apresentavam seu traço impressionista característico.

Neste período apaixonou por Sien, uma prostituta, alcoólatra, portadora de sífilis, que tinha uma filha de quatro anos e estava grávida de outro. Escrevendo ao seu irmão Theo, Vincent confessou que aos seus olhos ela era linda, precisava dele, e ele sabia que poderia salvá-la.

Assim, Sien se tornou sua companheira, amante e modelo. Mas Vincent ficou doente, descobriu que estava com gonorréia, sífilis e foi hospitalizado. Ela retornou para as ruas para ganhar mais dinheiro apesar dos pedidos de Vincent para não voltar a se prostituir, por isso eles brigavam e bebiam frequentemente.

Bêbado passou a vê-la como realmente era, e um véu de depressão caiu sobre ele. No final de 1882 sua família e até mesmo seu irmão Theo não suportavam mais seu caso escandaloso com Sien, e ameaçou cortar-lhe o dinheiro se não terminasse.

Culpado e com remorso Vincent deixou sua companheira e os dois filhos dela para trás. Depois disso, em 1883 ele perambulou por regiões desoladas na parte nordeste da Holanda, desenhando e pintando para manter o seu equilíbrio emocional.

A primeira obra prima

Os comedores de batatas

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Em 1885, aos 33 anos Vincent começou a trabalhar em sua primeira obra prima, os comedores de batata. Ele queria pintar um quadro inspirado no chiaroscuro de Hambran, retratando as mãos dos camponeses que plantavam, colhiam e comiam as batatas.

Estava ansioso para que seu irmão a visse. Tinha certeza de que conseguiria vendê-la, Mas a resposta de Theo não foi positiva, o irmão lhe informou que usando os tons cinzas e pretos dos pintores clássicos holandeses suas pinturas nunca seriam vendidas em Paris.

Theo escreveu sobre a arte revolucionária de Claude Monet, Renoir e Édouard Manet. Vincent não conhecia nenhum desses nomes, mas percebeu que significavam muito para o seu irmão. Nesse momento soube que teria que ir a Paris se quisesse agradá-lo.

Paris o impressionismo e cultura japonesa

Vincent escreveu 39 cartas dizendo que queria ir ficar com o irmão. Theo respondeu a todas sem convidá-lo. Finalmente após a 40ª carta Vincent avisou que estava na estação, e que ele deveria buscá-lo.

Em março de 1886 Theo recebeu Vincent em seu apartamento, ele era um dos poucos negociantes a adquirir e exibir a nova arte. Seus patrões deixavam-o exibí-la no fundo da galeria.

Foi a primeira vez que Vincent viu uma pintura impressionista e observava deslumbrado, nunca soubera que haviam pintores capazes de captar as luzes e as cores de forma tão deslumbrante.

Nos dois meses em que viveu e pintou em Paris ele se abriu a ideia radicais e inventou uma nova maneira de olhar o mundo. Vincent trabalhou furiosamente para melhorar a sua arte. Dentro de poucas semanas ele começou a estudar com Toulouse-Lautrec, Russell, Bernard e muitos artistas das época.

Tentou discutir a sua obra e idéias com outros pintores, durante as tardes nos cafés, mas todos se cansaram daquela conversa constante. Vincent acreditava que eles não possuíam as paixões de suas convicções porque ninguém sentia como ele, ninguém ligava como ele e certamente ninguém discutia tanto quanto ele.

Theo geralmente explicava que seu irmão apesar de encrenqueiro tinha um bom coração. Mas havia um pintor que gostava do trabalho de van Gogh, Paul Gauguin. Discutiam obras e trocavam auto retratos que refletiam seus estilos e como cada um via a si mesmo.

Neste período Vincent também se apaixonou pela cultura nipônica, em especial sobre a idéia de que a essência da pintura está em cada golpe do pincel. Ele chegou até mesmo a estudar filosofia oriental para se aprofundar mais no tema. Sonhava em ir ao Japão, mas não tinha condições financeiras para isso. Toulouse-Lautrec lhe disse que a luz do sol na aldeia de Arles era igual a do Japão.

A casa amarela

Em uma manhã de fevereiro de 1888 ele disse adeus ao seu irmão Theo e tomou um trem para o sul da França. A luz de Arles começou a encher suas pinturas, a cidade era o Japão de Vincent.

Ele sonhava em ter uma união com um grupo de pintores que se juntassem e trabalhassem em um mesmo lugar. Então ele alugou um quarto em uma casinha amarela, que acabou se tornando uma de suas pinturas.

Vincent economizava o dinheiro que seu irmão lhe mandava pagando barato no quarto, comia apenas pão e café durante o dia e bebia absinto a noite. Gastando a maioria do seu dinheiro em telas e pigmentos.

Vicent continuou trabalhando tentando criar fontes de luz novas e separadas para cada pintura. Desde lâmpadas no Terrace café até as estrelas no céu. Perdia cada vez mais a influência impressionista e usava cada vez mais cores para exprimir-se com mais força.  

Theo temia pela saúde do irmão e fez um acordo com Paul Gauguin, oferecendo dinheiro para que ele fosse morar com seu irmão por um tempo.

Para recebê-lo Van Gogh decidiu ao invés de colher flores e colocar no quarto, pintá-las para o seu amigo. E fez seis diferentes quadros de girassóis.

girassois van gogh

No começo a relação foi boa, mas mesmo sendo pago, Gauguin só queria ir embora. Apenas um mês depois de sua chegada os dois discutiam frequentemente. No dia 23 de dezembro eles tiveram mais uma briga, dessa vez Gauguin havia conseguido vender um quadro em Paris e decidiu partir.

Vincent, aos 35 anos foi internado no hospício, Theon chegou em Arles no natal, e foi correndo ao hospital visitar seu irmão, que estava sofrendo severas convulsões.

Ele soube que seu irmão estava noivo da jovem holandesa Johanna van Gogh-Bonger, e percebeu que seu irmão teria outra pessoa para pensar, cuidar e amar. E para piorar ela queria se mudar para Marceli.

Para se despedir ele resolveu pintar toda a família, tomando cuidado com a pintura de Johanna em especial ilustrando ela balançando o berço, dando o afeto que ele sempre sonhava e nunca tivera de sua mãe.

Seu ritmo frenético de trabalho só o tornava mais doente. Ouvia vozes e estava convencido de que alguém estava tentando envenená-lo. Vincent foi trancado em um quarto no hospício e o seu quarto na casa amarela foi selado para sempre. O povo de Arles tratava-o muito mal, e ele não conseguia encará-los, só queria ir embora.

Em 1889 pediu ao seu irmão para se mudar para um hospício em  Saint-Rémy, e não acreditava mais que poderia ser um pintor. Theo reservou dois quartos para seu irmão, um para dormir e outro para pintar e em novembro do mesmo ano, foi convidado para expor suas pinturas em Bruxelas.

Enviou seis pinturas, duas eram lírios que o ajudavam a lidar com seus medos de alucinações e uma delas era A noite estrelada, inspirada por um sonho. Mesmo com mais de 700 obras criadas, Vincent nunca havia vendido nenhuma. Agora Theo conseguira vender uma por 400 francos, chamada Vinhedo vermelho.

noite-estrelada

 

O vinhedo vermelho

Em 31 de janeiro de 1890, Johanna deu à luz um bebê que foi batizado de Vincent Willem Van Gogh. Quando Vincent estava melhor o irmão deixou que ele visitasse o sobrinho. Ele levou de presente para o bebê uma pintura de flores de amendoeiras representando uma nova vida que chegava.

flor de amendoeiras

Vincent estava muito triste e inseguro com o seu futuro. Seus quadros revelavam o turbilhão que sentia. Theo enviou a Vincent os 50 francos de costume e não fazia idéia do que estava passando na cabeça do irmão. Seu último quadro foi o Campo de trigo com corvos, esse quadro marcou tragicamente o local do suicídio de Vincent.

campo-de-trigo-com-corvos

No dia 27 de julho de 1890, Vincent estava cansado, doente e com medo do seu futuro. Ele saiu para pintar, mas não retornou como  de costume. Quando não voltou para o jantar o senhorio foi procurá-lo.

Em algum momento do seu dia Vincent pegou um revólver, atirou no próprio peito, mas não teve sucesso e acabou com uma bala alojada. Ele voltou para o quarto onde o senhorio o encontrou sangrando muito.

O último dia bom de Vincent van Gogh

Os médicos foram chamados, mas não conseguiram retirar o projétil, alojado abaixo do coração. Chamaram então a família para se despedir. Somente Theo foi, mesmo sem saber se Vincent ainda estava vivo.

Ele encontrou o irmão fumando um cachimbo na cama. Ele acreditou que Vincent sobreviveria, e enviou até mesmo uma carta a esposa contando as boas notícias, mas estava enganado.

Os dois conversaram durante toda a tarde e a noite, Theo cuidadosamente se deitou ao lado do seu irmão como quando eram crianças na Holanda. Vincent virou-se para seu irmão, abraçou-o e disse “é como se estivéssemos em casa, me leve para casa” e adormeceu.

Em 29 de julho de 1890, Vincent Willem van Gogh morreu nos braços de seu amado irmão. Ele tinha apenas 37 anos. Durante seu funeral girassóis e todas as flores amarelas encontradas foram jogadas sobre o seu caixão como homenagem a sua paixão pela cor.

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