Com apenas 20 anos, Marcelo Valentim Marinho (mais conhecido como Mazola Marcnou) cria obras com grafites em muros das periferias de São Paulo. Utilizando técnicas realistas Mazola não só expressa a sua mensagem, como também ajuda a tornar mais coloridos os muros cinzas das cidades.
Destaque no cenário de arte de rua no Brasil, o grafiteiro ganhou visibilidade internacional através do seu Instagram. Marcelo, que também se denomina como “Um garoto por trás das latas” gosta de grafitar retratos realistas, que quebram as fronteiras da imaginação.
Quem é Mazola Marcnou?
O menino que começou a grafitar com apenas 16 anos, teve como motivação as feiras anuais de artes que ocorriam em sua escola. Nelas os alunos expunham poesias, músicas e desenhos por eles criados. A oportunidade de mostrar aos colegas um pouco do que criava motivou o jovem estudante a desenvolver painéis exclusivos e levá-los à feira.
Em entrevista para Sabrina Sartorelli o artista disse que as suas inspirações são provenientes de músicas, filmes e séries favoritas, e alegou também preferir pintar rostos. Cada obra do grafiteiro leva em média de sete a oito horas para ficar pronta, durante o grafite ele faz pequenas pausas para descontrair e ver como está ficando a obra de longe, acrescentando que “quando a gente para pra ver o que tá fazendo, é que dá para ver os defeitos”.
Obras que merecem destaque
A duração das tintas nas ruas, mesmo com sol, chuva e outros fatores externos pode ser de até 20 anos. No entanto Mazola faz questão de renovar a sua arte a cada ano, pois adora estar se reinventando.
Disponível em: https://www.instagram.com/p/BVBbPjmHx2L/
Quando questionado sobre qual seria a sua obra favorita, Marcelo alega que procura sempre fazer a arte posterior melhor que a anterior, como desafios pessoais para melhorar, mas não nega ser apaixonado pelo Bob Marley.
Disponível em: https://www.instagram.com/p/BQrMhO3jpuJ/
Outra obra destacada por Mazola é a mulher silenciada, criada como forma de protesto, esse grafite está localizado em um beco onde já ocorreram tentativas de estupros. O olhar é bem expressivo demonstrando o medo que as mulheres que por lá passam sentem de se tornar estatística.
Disponível aqui: https://www.instagram.com/p/BXY1QL_nOBQ/
O primeiro grafite a receber destaque internacional foi uma homenagem ao rapper Quavo, que foi repostada pelo próprio artista em seu Instagram pessoal e depois recebeu destaque em revistas nacionais e internacionais.
A importância da arte de rua para os centros urbanos
A arte de rua contribui para a ocupação dos espaços e, como ocorreu com o caso de Mazola pode até mesmo servir como estímulo ao turismo a certas partes da cidade que não estariam na rota de turistas sem essas artes.
Em 2017, Dória, então prefeito da cidade de São Paulo decidiu cobrir os grafites da cidade, abafando o grito de liberdade dos jovens das periferias. Sobre o tema Mazola opinou na época dizendo que “ele é uma pessoa que precisa aprender muito sobre o assunto, a gente tá vivendo vários problemas, e eu acho muito zuado a gente […] apagar os grafites, sabe, é algo que não incomoda ninguém. […] Chega até a incentivar o turismo, cara, isso é um presente para rua.”
Realismo vs a realidade
Não se pode negar a ironia poética que há entre a técnica utilizada pelo grafiteiro perante a realidade pela qual ele vive. No Brasil ainda há um grande preconceito com esse tipo de arte, Mazola alega que esse preconceito era vivido até mesmo dentro de casa: “no começo seus pais não vão curtir muito, então pô, cê quer ser artista? É totalmente fora do padrão”.
A realidade nas periferias é forte, desde cedo os jovens começam a trabalhar para ajudar com as despesas da casa e os artistas que recebem notoriedade no Brasil na área de grafite ainda são poucos. Mas essa preocupação não é vanguarda brasileira, Michelangelo sofreu a mesma ojeriza do pai ao relatar seus desejos de tornar-se um artista. Infelizmente esse preconceito com a profissão, que mais parece um “hobbie” se estende a sociedade, que duvida da capacidade de que um artista possa sobreviver apenas da sua arte.
Marcnou esclarece também que mesmo em ambientes onde o artista é contratado ainda ocorrem pedidos para “abaixar o preço, só que ninguém vai no mercado e pede para abaixar o preço” e finaliza sua argumentação ressaltando que o grafiteiro, como em qualquer outra profissão merece ser valorizado pelo seu trabalho. Acrescentamos ressaltando que todas as formas de arte devem ser respeitadas e remuneradas conforme o preço que o artista achar que merece.
Imaginem o que ocorreria se os pintores que hoje consideramos consagrados tivessem simplesmente desistido e não deixado seu legado? Mesmo quando um artista não recebe seu devido valor em vida, ainda podem ocorrem sucessos tardios como foi o caso de Van Gogh, suas telas que nunca foram vendidas em vida, mas hoje atingem preços recordes em leilões chegando a casa dos milhões.
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