João Caetano: Factótum para o teatro nacional

Conheça a história, legado e curiosidades sobre a vida de João Caetano, peça chave para a identidade do teatro nacional. Ao longo da carreira ele trabalhou como ator, roteirista, escritor e encenador.  

Ousado, fundou a primeira companhia de artistas, treinando ex-escravos para serem atores, além de criar interpretações exclusivas que dialogavam diretamente com o seu público-alvo.

Revolucionário, em uma época em que a língua portuguesa predominava os meios artísticos,  João foi o primeiro brasileiro a defender o uso do nosso sotaque durante as interpretações.

Vasta, a obra deste artista foi tão importante para as artes cênicas no Brasil que em sua homenagem no dia 24 de agosto (data de seu falecimento) comemora-se o Dia Nacional do Artista.

A história do fundador da primeira academia de atores do Brasil

Nascido em 27 de janeiro de 1808, em Itaboraí, antigo principado do Brasil João Caetano dos Santos começou a carreira como um ator amador. Autodidata na arte dramática ele também exerceu os cargos de empresário e ensaiador. 

Sua estréia em uma peça profissional ocorreu no dia 24 de abril de 1831, com a peça O Carpinteiro da Livônia. Com dois anos de carreira profissional João já havia conseguido uma vaga na companhia oficial do teatro de Niterói, que posteriormente recebeu o seu nome.

João Caetano foi pioneiro em muitos sentidos

Em 1938 aceitou o convite para encenar a primeira comédia brasileira: O Juiz de Paz na Roça, de Martins Pena. No mesmo ano foi escolhido para atuar como Antônio José o protagonista da primeira peça original do teatro brasileiro, escrita por Gonçalves de Magalhães: O poeta e a inquisição.

Em 1860 João Caetano fez uma viagem à Paris, na qual conheceu o Conservatório Real da França. Observou que as linguagens e piadas eram feitas de acordo com o gosto francês.

Ao voltar para o Brasil decidiu embarcar em uma nova empreitada desenvolvendo um júri dramático que seria incumbido de premiar a produção nacional. A estadia parisiense também lhe conferiu inovações no que se refere a atuação.

Antes, todas as peças eram entoadas no formato de cantigas, se tornando ladainhas monótonas com sotaque português. João percebeu que seu público era diferente do povo europeu, por isso passou e realizar atuações com entonações apropriadas para o Brasil, com declamações expressivas e representações mais naturais.

Ampliando os horizontes profissionais

Perspicaz, logo notou que a sua trajetória não poderia se limitar a atuação. Ele precisava ser capaz de ensaiar, encenar e dirigir e graças a expertise adquirida nessas sendas ele acabou se tornando indispensável para o teatro nacional.

Quase todos atores eram ex-escravos que não tinham formação e não sabiam ler ou escrever.  No começo do ofício eles não entendiam a diferença entre atuar como um personagem e se tornar uma pessoa diferente, por isso era importante estudar o caráter do personagem que seria encarnado. Os atores deveriam imitá-los sem tentar se igualar a natureza do papel.

João Caetano conseguia explicar o processo de forma peculiar, fazendo com que os ex-escravos se tornassem atores dedicados. Em uma de suas explicações exóticas ele quase enforcou uma companheira em cena, apenas para justificar que o ator não deve deixar o papel tomar conta da sanidade.

Mas havia outro desafio D. Maria I classificava as atrizes como mulheres libertinas e proibiu a atuação no país. Logo, as atrizes, que já eram raras em peças nacionais foram extintas do cargo. Para sanar o problema os papéis femininos eram substituídos por atores.

Essas substituições deram origem a personagens caricatos nas peças de João Caetano, como uma Julieta usada em Minas Gerais, que ficou famosa por sua pele escura, tranças loiras, voz de homem e avantajada envergadura.

Além da falta de equipe qualificada, as instalações também deixavam a desejar. Em cidades menores as casas de representação, quando muito, eram limitadas a barracões ou tablados improvisados.

Até mesmo o principal teatro do Rio de Janeiro apresentava condições precárias e já havia queimado 3 vezes em menos de 50 anos. Em 1833, o maior artista brasileiro do século XIX, João Caetano, arrendou a casa de espetáculos, que posteriormente viria a ter o seu nome.

A companhia de João Caetano

Em 1838 ele adquiriu um espaço no qual organizou a sua própria companhia de teatro,  a primeira a ser composta exclusivamente por atores nacionais. Por meio dela seria possível conscientizar um grupo ainda maior de atores sobre a importância das artes cênicas. Esse feito o deixou profundamente orgulhoso. No dia 24 de agosto de 1863, aos 55 anos de idade João Caetano do Santos estava no auge de sua fama quando foi encontrado morto.

O legado

O legado de João Caetano é importante dentro e fora do palco, ele não só foi responsável pela criação de um perfil para os atores brasileiros como atuou valorizando e empregando os ex-escravos.

Multifacetado o ator encantava diferentes platéias graças a sua capacidade de adequar seu discurso ao público. Com arroubos tocados com entusiasmo ele podia transitar entre os mais variados papéis, desde os mais românticos até os demônios mais assustadores.

Originalidade

Antes de João Caetano as peças estavam limitadas a roteiros mal traduzidos de obras europeias. Sua carreira abriu um leque para diversas possibilidades no teatro brasileiro, pois começou paralela aos primeiros passos do teatro nacional.

Ele foi um dos responsáveis por trazer a nossa nacionalidade para peças, preconizando uma junção da comedie francaise com o tradicional mecenato da corte portuguesa, que D. João trouxera para o Brasil dialogando melhor com o público-alvo.

Curiosidades sobre a vida de João Caetano

  • Ele Parecia fisicamente com Napoleão, que era amplamente admirado na época, bem como toda a cultura francesa;
  • Unanimemente João Caetano é considerado o maior ator brasileiro do século XVIII;
  • Montava as cenas militares inspirado na época em que foi cadete, servindo na guerra Cisplatina;
  • Ele também encarava a vida teatral como um campo de batalha onde sempre lutava por suas idéias;
  • João Caetano publicou dois livros sobre a arte de representar: Reflexões Dramáticas, de 1837, e Lições Dramáticas, de 1862;
  • Seus estudos originaram um novo estilo de interpretação;
  • A dedicação ao seu trabalho era tão notória que ele foi classificado como um herói cultural;
  • Recebeu a medalha de bronze que o consagrou como Talma Brasileiro título antes só cedido a atores da linhagem clássica portuguesa.

Dotado de intuição artística inigualável, João Caetano foi um homem a frente de sua época ousado o suficiente para reformular completamente a arte dramática no Brasil. Se você conhece outras curiosidades sobre esse artista deixe aqui embaixo nos comentários. 

Você pode gostar de...