Claudio Seto o pioneiro do universo de mangás aqui no Brasil
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17 abril, 2019

Claudio Seto o pioneiro do universo de mangás aqui no Brasil

Descendente de samurais Claudio Seto foi responsável por trazer os traços dos quadrinhos japoneses para as terras tupiniquins. Ele atuou como um dos desenhistas mais ativos na Edrel, a maior editora do gênero no Brasil. Também coordenou uma equipe com 50 desenhistas na Grafipar, em Curitiba deixando um legado de mais de 800 páginas de mangá.

Trajetória

Chuji Seto Takeguma, mais conhecido como Claudio Seto, foi um artista que se tornou famoso graças a suas obras de mangás, as quais foram pioneiras no Brasil. Ele nasceu em 1944 no município de Guaiçara, interior de São Paulo, uma das áreas colonizadas por descendentes japoneses no país. Além dos quadrinhos, Seto também atuou como poeta, roteirista, fotógrafo, bonsaísta e Onmyoji. Os seus primeiros mangás foram lançados em 1967, intitulado O Samurai Ninja - o Samurai Mágico e Super-Pinóquio os quais eram baseados na obra Astro Boy de Osamu Tezuka. Os seus mangás seguiam o gênero shoujo (para mulheres) e gekigá (para adultos) e eram inspirados em seus ancestrais, os samurais. Durante a ditadura militar seu trabalho foi interrompido pois a editora Edrel foi censurada.

De São Paulo à Curitiba

Após a ditadura ele veio morar em Curitiba, e começou a trabalhar na Grafipar, onde retomou seu trabalho com a personagem Maria Erótica (shoujo). Durante a oportunidade outros títulos também foram republicados. Foi nesta época que o desenhista criou também a personagem de faroeste Katy Apache, que vestia apenas um poncho. Ela representava uma brasileira criada entre índios apaches. Suas roupas foram inspiradas na personagem de Raquel Welch no filme de faroeste Hannie Caulder de 1971. Apesar de ter se tornado famoso por suas publicações e mentoria no gênero mangás, Seto seguiu aprimorando seus talentos no desenho em outras áreas. Ele também se dedicou a fotonovelas italianas, charges e tirinhas, as quais foram publicadas nos jornais Tribuna do Paraná, O Estado do Paraná e Correio de Notícias. Depois de 40 anos da sua obra, o Samurai foi republicado, Claudio Seto falou sobre seu entusiasmo em uma entrevista, na qual também confessou que não trabalhava mais com os mangás, dando preferência aos bonsais e eventos de anime em Curitiba. Em 2008, durante o centenário da imigração japonesa no Brasil, o polímata publicou em parceria com Minami Keizi um livro inspirado nos preceitos de sua seita, o Onmyōdō, intitulada como “Horóscopo Japonês”.

Prêmios e homenagens

O primeiro prêmio recebido por Claudio Seto foi a homenagem Ângelo Agostini, em 1990, na qual foi nomeado como Mestre do Quadrinho Brasileiro. Cinco anos depois ele também foi classificado pelo HQMix, como o Grande Mestre do Quadrinho Brasileiro. Em 1996 foi homenageado como o Pioneiro e Mestre do Mangá no Brasil pela Associação Brasileira dos Desenhistas de Mangá e Ilustradores. Em 2007 Seto recebeu o título de Cidadão Honorário de Curitiba. Durante o Haru Matsuri de 2008 (ano do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil), cerca de dois meses antes do seu falecimento. Ele recebeu homenagem da equipe Tadaima Curitiba, responsável pelo evento: [...] “Todos nós aprendemos um pouco com o artista plástico, o mestre Onmyoji da seita Zenchi, o fotógrafo, o animador cultural, o jornalista, o poeta… Com esse homem único chamado Claudio Seto. Agradecemos do fundo do coração tudo o que tem feito pela Cultura Japonesa e para cada um de nós!” Além disso, em dezembro do mesmo ano, pouco após o seu falecimento ele recebeu o prêmio Troféu HQ Mix, pela edição 2008 da revista O Samurai. O troféu foi entregue ao seu filho, Itsuo Nakashima, que também atua como animador. No dia 7 de maio de 2009 a comunidade curitibana fez mais uma homenagem a Claudio Seto (1944-2008), na Praça do Japão. E a partir de 2010 o evento passou a se chamar Seto Matsuri, em festivo em comemoração a Cultura Nipo-Brasileira em homenagem ao multiartista. Em 2011 foi lançado o documentário em DVD O Samurai de Curitiba, de Roberto Machado e José Carlos Padilha. Em 2015, Seto foi homenageado novamente na graphic novel A Samurai de Mylle Silva de Yoshi Itice.

Curiosidades

  • Chuji precisou trocar de nome aos 7 anos pois só poderia obter o certificado da escola primária se não fosse pagão, e seu nome era de origem budista. Passou então a se chamar Claudio.
  • Após se converter ao Onmyōdō ele recebeu um novo nome Onmyoji Seto Shamon;
  • Durante a ditadura militar o artista precisou parar de desenhar os mangás, mas roteirizou Robô Gigante para Watson Portela. Neste período Seto decidiu se dedicar a carreira política, foi eleito duas vezes vereador em sua cidade natal;
  • O seu último livro foi a respeito das lendas trazidas pelos imigrantes do Japão, publicado pela Devir Livraria;
  • Claudio Seto era tão genial que não concebia a ideia de ter toda essa genialidade atribuída somente a ele, por isso em dado idade de sua vida inventou que tinha um irmão gêmeo com o mesmo nome, que também desenhava. Contava inclusive histórias de quando eles viajavam, trocavam de papéis e ninguém notava;
  • Atuou como conselheiro da Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações (Abrademi), na época de sua fundação em 1984, e depois foi presidente da unidade Paraná da mesma.
Sem dúvidas Seto ajudou a trazer e popularizar a cultura de mangás no Brasil. Claudio Seto faleceu em 16 de novembro de 2008, devido a um AVC, mas seu legado nunca será esquecido.