Eduardo Kobra: Conheça o trabalho do bi recordista mundial de maior mural grafitado

Eduardo Kobra é filho único de uma família pobre e periférica, seu pai era tapeceiro e sua mãe era dona de casa. Ele nasceu na Zona Sul paulistana em 1975, e diferentemente de muitos amigos que perderam a vida para as drogas, ele saiu diretamente da periferia de São Paulo para o planeta. 

O artista ganhou notoriedade na mídia brasileira ao criar o maior mural grafitado do mundo, à obra “Etnias”, que tem 2,5 mil m²  e foi criada para os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Recentemente, ele re-conquistou o recorde mundial, que anteriormente já o pertencia, criando em 2017 uma obra em homenagem ao chocolate, que ocupa um paredão de 5.742 m² às margens da Rodovia Castello Branco, na Região Metropolitana de São Paulo. 

Mas Eduardo não é novo na área, ele já foi convidado para pintar nos muros de mais de 15 países, contudo a sua trajetória, hoje tão vitoriosa, nem sempre foi dotada de glória. Conheça o início da carreira de Kobra.

Da pichação as galerias mundiais

O início da carreira deste artista ocorreu de forma clandestina, aos 12 anos, no final de sua infância, quando ele atuava junto a garotos mais velhos como pichador. Durante essa época ele realizou diversas intervenções com o uso de sprays em sua escola e bairro, o que o levou a ser autuado e detido por crime ambiental três vezes.

O grafite é um tema controverso no Brasil, enquanto boa parte da população ainda confunde o trabalho como vandalismo/pichação, lá fora esse tipo de arte é mais valorizada. Felizmente essa valorização externa está levando a população a olhar esse tipo de trabalho com outros olhos, por isso não há como dissociar o contexto social dos artistas que participam desse meio.

Sem dúvidas um dos principais precursores dessa mudança de ponto de vista é Eduardo Kobra, um pintor muralista que atua a mais de trinta anos na área utilizando os muros como telas. Enquanto o grafite tende a ser efêmero, pois depois de feita, a arte pode ser coberta com tinta pelo proprietário, o mural é sempre autorizado. Muitas vezes, sua criação pode ser solicitada pelo próprio dono do muro, por isso tende a permanecer no local por anos.

Em diversas entrevistas, como a cedida ao apresentador Jô Soares, Kobra relata sobre seu avanço, de um rapaz pobre, que antes era taxado como pixador/artista marginalizado, que já chegou a ser preso somente por tentar criar seus trabalhos em muros públicos, até chegar ao que é hoje: um pintor muralista renomado com reconhecimento mundial e obras divulgadas em cinco continentes. 

Felizmente as represálias policiais a sua profissão marginalizada não foram o suficiente para pará-lo. Os lucros advindos de seu trabalho só viriam anos mais tarde, em 1990, quando ele finalmente começou a ganhar dinheiro vendendo cartazes e pintando cenários de brinquedos para o Hopi Hari.

Seu talento finalmente foi reconhecido comercialmente, o que lhe possibilitou receber convites para atuar junto a agências de publicidade, mas apesar do sucesso sua paixão pela arte urbana nunca foi deixada de lado, e o Hip Hop continuou exercendo forte influência em suas inspirações.

Autodidata, o muralista também admite que aprendeu e desenvolveu sua arte ao observar a obra de artistas que admira – do misterioso expoente da street art Banksy, britânico cuja identidade jamais foi revelada, a nomes como o norte-americano Eric Grohe, o também norte-americano Keith Haring e o mexicano Diego Rivera.

O legado

Em 2007, Kobra conseguiu angariar fundos para criar sua primeira obra em muros com apoio governamental, batizada como Muro das Memórias, a obra convida o expectador a mergulhar em um universo em que são retratadas cenas da cidade de São Paulo na primeira metade do século XX.

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Muro das Memórias | Website oficial do artista Eduardo Kobra

Esse trabalho é vanguardista, bem diferente dos grafites encontrados na época. Por se tratar de um projeto que mescla imagens históricas em preto e branco e sépia  em contraste à cores fortes, esse projeto acabou se tornando tão único, que virou marca registrada de Kobra. Desde então o artista se especializou em resgatar a importância dos lugares fortalecendo a sensação de pertencimento de seus habitantes.

Muro das Memórias

Muro das Memórias | Website oficial do artista Eduardo Kobra

Um dos projetos manifestos mais conhecidos do artista é Green Pincel, que demonstra a sua importância com as causas ambientais.

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Green Pincel | Website oficial do artista Eduardo Kobra

Os painéis dessa coleção são compostos por imagens aliadas a frases de protesto em prol das causas ecológicas, variando entre o combate à pesca predatória, o veto à exploração de animais em eventos como o rodeio chegando até mesmo a grandes causas como o aquecimento global, poluição da água e do ar e desmatamento.

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Green Pincel | Website oficial do artista Eduardo Kobra

Além das obras muralista, o artista também trabalha nas calçadas com pinturas anamórficas, tratam-se de grafites 3D que sofrem distorção no chão conforme o ponto de vista do observador.  Em 2009 ele mergulhou em seu ateliê, realizou testes diversos de arte e, em seguida, colocou suas pinturas de street art tridimensionais nas ruas.

A primeira foi criada na Avenida Paulista, coração simbólico e financeiro de São Paulo. Depois, ele criou exposições semelhantes ao redor do mundo, que passaram por galerias nos Estados Unidos, festivais e eventos restritos em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

As redes sociais possibilitaram que o artista ampliasse seu olhar das causas ambientais para as causas sociais, resultando no projeto Realidade Aumentada. Nessa obra o pintor criou dez painéis em dez dias em 2015 que jogam luz em problemas como o desaparecimento de uma garotinha de três anos, a invisibilidade de uma moradora de rua que escreve poemas, e a história de uma bailarina de origem pobre da periferia paulistana.

Kobra também tem obras em homenagem aos homens que buscaram a paz, em Olhar a Paz ele retrata personalidades históricas que tenham lutado contra a violência, pela disseminação de uma cultura de paz pelo mundo. Ele já estampou em muros o ativista indiano Gandhi, a vítima do Holocausto Anne Frank, a ativista paquistanesa Malala Yousafzai e o cientista alemão Einstein, entre outros.

Em 2011 ele conquistou o primeiro trabalho fora do Brasil, em Lyon, na França, onde revitalizou um paredão nos bairros mais pobres, realizando uma obra similar a de São Paulo, criando Muros da Memória em uma versão francesa.

O trabalho deu tão certo que já ganhou versões na Espanha, Itália, Noruega, Inglaterra, Malaui, Índia, Japão, Emirados Árabes Unidos, além de diversas cidades norte-americanas. Atualmente Kobra mora em São Paulo, onde também fica seu ateliê.

Mas engana-se quem pensa que o preconceito ficou no passado, até mesmo uma de suas obras mais famosas, “O Beijo” , criada em 2012 no High Line, em Nova York, infelizmente não existe mais, recentemente foi apagada para dar lugar a um muro vermelho. Tratava-se de uma releitura cheia de cores da imagem feita em 13 de agosto de 1945, pelo fotojornalista norte-americano Alfred Eisenstaedt. para retratar a alegria quando o povo saiu às ruas para comemorar o fim da Segunda Guerra Mundial.

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